Tempos houve em que a imprensa, e talvez também o Jornal I, era um importante facilitador do debate e da expressão de ideias. Se hoje se tornou um censor do trabalho académico e um perseguidor de visões alternativas, maculando-as pela mentira, quem com isso perde é a democracia, que resulta castrada, e a sociedade civil, que acabará intelectualmente diminuída. Um ambiente inquisitorial não pode promover o surgimento de perspectivas inovadoras sobre o nosso passado, e muito menos o de ideias novas para o nosso futuro. Arriscamo-nos, assim, a cair numa forma nova de totalitarismo, com a imprensa a fazer as vezes de polícia política, forçando a uniformização cultural e procedendo à eliminação - pelo medo e pela ameaça de perseguição pública - de dissidências. Ora, uma imprensa com liberdade para demonizar os intelectuais e criminalizar o pensamento é uma imprensa que nos deixará a todos menos livres.
A Nova Portugalidade afirma, à semelhança do que mantêm os historiadores Niall Ferguson ou Maria Roca Barea sobre os impérios britânico e espanhol, coisa simples, mas de transcendental importância: que os portugueses não devem envergonhar-se do seu passado, e que a contribuição do Império português para o progresso humano não deve ser menos considerada que a de outras nações construtoras e divulgadoras de civilização. É lícito que os escribas do I discordem, e lícito é que se oponham a esta leitura positiva da História de Portugal - conquanto digam ao que vêm, não confundam o texto noticioso com opinião pessoal, honrem as regras da profissão e refutem educadamente os argumentos que apresentamos. Mas não podemos compreender que divergências de opinião - para mais, sobre matéria histórica - motivem tão gravosas invectivas como aquelas de que fomos alvo. Celebrar a universalização da ciência europeia por Portugal - ou a chegada de Confúcio à Europa, a abolição da queima ritual de viúvas por Afonso de Albuquerque, a proibição do canibalismo indígena no Brasil - não é coisa de «direita» ou de «esquerda». É a posição de todo o português orgulhoso de si e da sua História. Querer maior integração política entre os países de herança portuguesa, por outro lado, parece também proposta plenamente integrada no espírito do tempo, da globalização e da construção de blocos supranacionais. Nada no discurso ou actividade da NP merece os epítetos com que nos flagelaram, e muito menos tentativas de associação com grupos que nada - nada - têm ou poderiam ter em comum connosco. Ilibatórias de qualquer associação com "extremas-direitas" têm, com efeito, sido as análises dos especialistas. É o caso de Riccardo Marchi, respeitado académico e estudioso das direitas portuguesas que rejeitou liminarmente qualquer relação entre a NP e esse espaço político.
Hoje mais que nunca, faz falta a tolerância intelectual e a capacidade para aceitar que não é menos que nós ou pior que nós quem não vê o mundo com as mesmas cores ou a História com as mesmas lentes. Esse é, afinal, o espírito da universidade. Não terão os jornalistas do I aprendido nada durante os seus anos de estudo?
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