Trata-se de um ex-libris do “MUSEU-BIBLIOTECA DO PAÇO DUCAL DE VILA VIÇOSA”, onde estes dizeres estão encimados pelo ex-libris de D. Manuel II, que como é sabido foi um bibliófilo e bibliógrafo distintíssimo.
O ex-libris de D. Manuel II já foi inúmeras vezes descrito [2] após a sua divulgação pública em Portugal[3]. Inspirado na página do rosto de “O Livro e Legenda que fala de todolos feitos e paixões dos Santos Mártires”, impresso em letra gótica, em 1513, em Lisboa, por João Pedro de Cremona, por ordem de D. Manuel I.
À semelhança daquela obra, o ex-libris ostenta, lado a lado, as armas reais e a esfera armilar. Esta foi adoptada por D. Manuel I como sua “empresa” (emblema pessoal), ainda antes de ser Rei. Enquanto que o brasão de armas, foi herança familiar de D. Manuel I, a esfera armilar é um emblema pessoal. “E emblema que pela sua adopção por um príncipe português é simultaneamente uma excelente manifestação de presença no renascimento, de vontade portuguesa de estudar e conhecer o universo, de cientificamente conquistar verdades geográficas e astronómicas”.[4]
À gravura existente na página do rosto daquela obra, acrescentou D. Manuel II, as legendas “Ex Libris” e “Depois de Vós Nós / D. Manuel II”. O conjunto está envolvido por uma corda e a gravura por outra corda, mas agora com dois nós.
Através do seu ex-libris, D. Manuel II assume toda a mensagem encerrada no simbolismo da esfera armilar, ao mesmo tempo que não se esquece da sua ascendência Bragança, uma vez que a corda e a frase transcrita no ex-libris eram o emblema pessoal, dos duques de Bragança de quinhentos, que através dele exprimiam que o seu lugar na hierarquia social portuguesa era imediatamente a seguir ao Rei. Ora, sendo D. Manuel II Rei, o uso do antigo emblema ducal bragantino, assume o significado de D. Manuel II aceitar assumir um lugar secundário em relação a D. Manuel I.
D. Manuel II [5] subiu ao trono a 6 de Maio de 1908, com 18 anos apenas, em virtude de seu pai D. Carlos I e o príncipe herdeiro D. Luís Filipe terem sucumbido no regicídio a 1 de Fevereiro de 1908. Tímido, inexperiente, sem gosto nem vocação para a política, D. Manuel II reinaria durante vinte e nove escassos meses, nos quais passaram pelo poder seis ministérios, cuja acção não foi além de pequenas manobras políticas. Seria destronado pelo triunfo da revolução republicana a 5 de Outubro de 1910.
Ao embarcar na Ericeira, em 5 de Outubro de 1910, para o seu exílio na Inglaterra, afirma em carta dirigida ao seu Presidente do Conselho de Ministros, conselheiro Teixeira de Sousa: “Forçado pelas circunstâncias, vejo-me obrigado a embarcar no yatch real “Amélia”. Sou portuguez e se-lo-hei sempre. Tenho a convicção de ter sempre cumprido o meu dever de Rei em todas as circunstâncias e de ter posto o meu coração e a minha vida ao serviço do meu Paiz. Espero que elle, convicto dos meus direitos e da minha dedicação, o saberá reconhecer. Viva Portugal! Dê a esta carta a publicidade que puder. Sempre muito affectuosamente MANUEL. yatch real “Amélia”, 5 de Outubro de 1910”.[6]Em 4 de Setembro de 1913 casa com uma prima, a princesa D. Augusta Vitória de Hohenzollern Sigmaringen, pertencente à família real alemã e da qual não teve descendência.
Viveu primeiro em Richmond e depois no Palácio de Fulwell Park, em Twickenham, onde morreu a 2 de Julho de 1932.
O casamento de D. Manuel II com uma princesa alemã, não o impediu de aconselhar os seus partidários a combater pela causa dos aliados, durante a I Grande Guerra e de visitar as tropas portuguesas na frente da Flandres.
Perante as incursões monárquicas sempre proclamou que não queria aventuras, afirmando que a Monarquia se devia restaurar pelo combate no campo legal.
Durante o exílio, que duraria até à morte, consagrou-se à investigação bibliográfica. As suas investigações foram publicadas nos dois primeiros volumes da obra “Livros Antigos Portugueses, 1489-1600, da Biblioteca de Sua Majestade Fidelíssima, descritos por S.M. El-Rei D. Manuel em Três Volumes”. A publicação, dirigida pelos livreiros Maggs Bros, de Londres, foi impressa nas oficinas tipográficas da Universidade de Cambridge, tendo o 1º volume sido publicado em 1929 e o 2º volume em 1932. Já o terceiro volume seria publicado em 1935, após a sua morte, tendo sido completado pela sua secretária Miss Margery Withers e editado com prefácios de Aubrey Bel e Ricardo Jorge.
A monumental obra de D. Manuel II descreve 9 incunábulos, 460 livros quinhentistas impressos em Portugal e 6 no estrangeiro. Na obra indicam-se ainda, o mais concisamente possível, 3 manuscritos e 112 volumes da camoneana de D. Manuel II, impressos de 1572 a 1928.
“O Sr D. Manuel de Bragança, além de descrever cientifica e miudamente cada livro, apontando todas as suas características de tipo, lugar, autoria, apresentação, utilização de vinhetas, portadas e capitulares, seriação de folhas e páginas, colocação de capítulos, prefácios, índices e estampas, ainda biografa autores e “impremidores”, ainda comenta, às vezes desenvolvidamente, os assuntos, não se proibindo, de quando em quando, do seu bocadinho de crítica histórica”.[7]
“A obra “Livros Antigos Portugueses”, orna-se com multiplas reproduções a preto e vermelho, xilogravuras, portadas, rostos, “colophons” capitulares, estampas, vinhetas e tarjas, caracterizantes de cada obra estudada, algumas de grande raridade e muitas de verdadeiro mérito etnográfico, artístico e histórico”.[8]
A obra de D. Manuel II tem sido unanimente elogiada por historiadores e bibliógrafos, sendo de salientar que “...no que se refere aos livros quinhentistas portugueses, El-rei Dom Manuel é o maior bibliógrafo de todos os tempos, embora não tenha descrito todos esses livros, pois só se dedicou às várias centenas que deles possuía, mas fê-lo com tal mestria e com tanta erudição que bem merece ser designado o Rei Bibliógrafo”.[9]
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Fonte: Do Tempo Da Outra Senhora
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