quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Sem medo das palavras

A reflexão que a seguir proponho será uma que a enorme maioria das pessoas fará e a totalidade, com senso comum, não devia deixar de fazer. Daí, quem dela se eximir, seria bom rever a que taxa estará o seu senso e tomar atenção para o facto de já o terem convencido de que são normais coisas que o não são de todo. E, se isso chegou ao cúmulo de o terem convencido que o socialismo continua a ser um grupo votável e que Sócrates se trata de um ente normal, probo, honesto e responsável, então, o caso “virou” patológico, devendo ser o hospício a sua próxima etapa. Nada tem de jocosa esta entrada. A situação é seria mesmo, a ver pelas sondagens.

O poder do mundo nos dias de hoje exerce-se em função de projectos, segundo uma ordem que muito pouco terá a ver com o que até aqui era o primado do serviço público, isto é, acautelar ou melhorar a vida do próximo. E sobre o próximo havia a ideia de ser aquele que reage de forma semelhante aos mesmos estímulos e se identifica com as mesmas emoções. No desenvolvimento desta natural circunstância, acabam por se criar linguagens semelhantes, a ter emoções que não se explicam mas que todos sabem muito bem os seus porquês, criando-se assim uma Comunidade cujo sedimento degenera naturalmente no que se concebeu ser uma Nação. Complicado? Não. Percamos o medo das palavras e não permitamos que a política lhes atribua significados diversos do que sempre tiveram. Pátria é aquilo que sempre foi. Não o das versalhadas menores de um tristíssimo Alegre, laico, traidor, esquisito e muito socialista. E patriotismo sempre quis dizer a mesma coisa, que é o contrário ao da ética republicana, que é a de Alegre.

O caricato Executivo de que Sócrates se fez rodear ultimamente é o exemplo acabado do que não deveria nunca ser um conjunto de administradores fosse do que fosse, e muito menos de um País com 900 anos. País este a que os videirinhos dos Varas chamam “detalhe” e esmifram copiosamente até ao tutano. É, assim, criminoso que a classe política encare como um empecilho ter que se preocupar com o serviço público, servindo-se dos lugares que ocupam para juntar patrimónios obscenos, explorando os dez milhões, extorquindo-lhes o que estes já não têm. Trata-se, sem apelo, de um crime de lesa existência, imputável à integralidade dos políticos em Portugal e às agremiações que dão pela designação desacreditada de partidos políticos. Todos. No momento em que escrevo, 21 de Julho 2010, e como amostragem, informo que não existe um único elemento do governo de Sócrates que tenha, por um minuto que fosse, estado ao serviço de uma empresa privada. Todos eles, sem excepção, sempre estiveram directa ou indirectamente integrados na chamada função pública, não tendo nunca nenhum tido a menor experiência empresarial. Nunca nenhum elemento do “staff” do Sócrates teve que esgravatar nos mercados ou fazer contas para cumprir a obrigação de pagar ordenados ao fim do mês. Todos eles auferiram, sempre, de rendimentos que lhes vinham, e vêm, do Estado. E alguns, desde aquelas organizações a que chamam “jotas” (juventude socialista, social democrata ou outras), cuja função tem sido institucionalizar a mediocridade, perpetuar os clubes de autênticos “gangs” que hoje enchem os tribunais, mas que não irão nunca para cadeia nenhuma. E cooptam-se uns aos outros de forma a não perderem, nunca, o controlo do povo e continuarem a amealhar o que não é deles.

Como é do conhecimento de todos, aos nossos compatriotas foi-lhes sonegado o conhecimento e a instrução, acabando estas reduzidas a algo que não vai para além de mera e inútil informação. E esta passou a ser fornecida à medida e na medida em que, primeiro, muito bem sirva os interesses da nomenklatura e, depois, o artificio europeu e o logro do euro. E se isso vinha sendo verdade de há já alguns anos para cá, é-o agora da forma mais escandalosa que alguma vez se poderia conceber. Escândalo este ainda potenciado não apenas do monocordismo dos media em geral, que não conseguem ultrapassar a mediocridade de se inebriarem com “fait divers”, mas ainda pelos adulterados programas de todo o ensino que prolifera em cursos que não servem rigorosamente para nada e que o poder insiste, criminosamente, em chamar-lhes superiores. A tragédia é integral e muitíssimo séria. O poder está, deliberadamente, a criar monstros sem futuro, que não têm a menor hipótese de ter uma vida digna seja onde for. Nem mesmo cá, para onde virão os outros, sem que nem isso o poder controle.

Alguém se insurgia há dias por se ter chegado ao ponto de o primarismo de um ser menor como Sócrates ter conseguido adquirir poder suficiente para brincar e prejudicar de forma irreversível uma das maiores empresas portuguesas: a Portugal Telecom. Sócrates teceu, à volta da PT, um sórdido emaranhado de influência, jogos sujos e roubalheira, como nunca se terá visto nesta nossa Terra. E se o que se sabe é já tão grave, faço ideia da dimensão da realidade. Neste caso, venha quem vier, é urgente não deixar fugir este energúmeno para o fazer penar em Alcoentre aquilo que só talvez Vasco Gonçalves e Soares tenham feito pior.

D. João de Castro Mendia

Fonte: Jornal O Diabo

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