Embora não dispense uma boa comédia, aprecie uma excelente anedota e tenha amigos de óptimo humor, não gosto do Carnaval. E nem sequer é pelo facto de ser o pórtico de acesso ao rigor penitencial da Quaresma.
Mesmo miúdo, não me disfarçava. Sempre detestei as bombinhas de mau cheiro, que alguns colegas faziam explodir na sala de aula, obrigando-nos a suportar o horroroso pivete. As bisnagas também não faziam o meu género: para além de não achar divertido molhar os outros, achava cobarde a atitude de atacar o próximo, com um esguicho de água, e depois bater em retirada.
Do Carnaval só se aproveitavam as férias, a meio do segundo período que, quando a Páscoa era alta, era longo de mais.
Num mundo em que a mentira parece ser a regra e a autenticidade a excepção, o Carnaval não faz sentido. Para quê pôr uma máscara, se tantas pessoas já andam escondidas atrás de uma careta falsa?! Para quê uma partida, se a regra parece ser a da irresponsabilidade? Qual a graça de uma fuga precipitada, se a impunidade campeia?
No dia primeiro de Abril, em que alguns festejam o dia das mentiras, outra lamentável efeméride do nosso calendário laico, há quem se divirta a enganar os outros. Jornais há que alinham com alguma notícia falsa, embora seja cada vez mais difícil saber qual é a que se pretende que o seja, para cumprir com a data.
Salvo melhor opinião, que tal marcar a diferença pela alegria da verdade, todos os dias, na autenticidade de se ser quem é e de se responder sempre, de caras, pelos próprios actos?
P. Gonçalo Portocarrero de Almada
Fonte: I online
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