S.M. El-Rei Dom Carlos I com os seus filhos, S.A.R. O Príncipe Dom Luiz Filipe e S.A. O Infante Dom Manuel
Sabbado 1 de Fevereiro de 1908
Lisboa – Paço das Necessidades (1)
Assassinato d’El Rei D. Carlos e do Principe Real D. Luis
De manhã Hospital. Fui almoçar a casa. Das 2 ás 4 consultorio. D’ali fui ao Terreiro do Paço esperar SS. MM. E o Principe Real que vinham de Villa Viçosa. Fallei-lhes quando desembarcaram e logo em seguida safei-me para ir a casa do Saint Rné Taillandier. Ali o Penha e Costa disse-me que tinha havido barulho no Terreiro do Paço. Vim logo para aqui para ver chegar dois landaus com os cadaveres do meu querido Rei e do meu querido Principe !!!
Tinham sido assassinados no Terreiro do Paço quando vinham na carruagem por uns monstros que sacaram carabinas debaixo do capote. Bem me diziam!
Noutra carruagem chegaram as duas Rainhas com o Senhor Infante D. Manoel que é agora El Rei D. Manoel II e pelo Infante D. Affonso que é agora o Principe Real. Que scena e que afflicção! Os dois cadaveres ficaram ao lado um do outro no quarto de cama d’El Rei.
Eu ali fiquei toda a noite.
São companheiros de serviço o Marquez-Barão d’Alvito, o Conde e Condessa de Figueiró, o Almirante Guilherme Cappelo, o António Waddington e o Visconde d’Asseca Pae que vinha com o querido Principe.
Tempo lindo para contrastar com a minha grande tristeza.
Thomaz de Mello Breyner - 4º Conde de Mafra
Lisboa – Paço das Necessidades (1)
Assassinato d’El Rei D. Carlos e do Principe Real D. Luis
De manhã Hospital. Fui almoçar a casa. Das 2 ás 4 consultorio. D’ali fui ao Terreiro do Paço esperar SS. MM. E o Principe Real que vinham de Villa Viçosa. Fallei-lhes quando desembarcaram e logo em seguida safei-me para ir a casa do Saint Rné Taillandier. Ali o Penha e Costa disse-me que tinha havido barulho no Terreiro do Paço. Vim logo para aqui para ver chegar dois landaus com os cadaveres do meu querido Rei e do meu querido Principe !!!
Tinham sido assassinados no Terreiro do Paço quando vinham na carruagem por uns monstros que sacaram carabinas debaixo do capote. Bem me diziam!
Noutra carruagem chegaram as duas Rainhas com o Senhor Infante D. Manoel que é agora El Rei D. Manoel II e pelo Infante D. Affonso que é agora o Principe Real. Que scena e que afflicção! Os dois cadaveres ficaram ao lado um do outro no quarto de cama d’El Rei.
Eu ali fiquei toda a noite.
São companheiros de serviço o Marquez-Barão d’Alvito, o Conde e Condessa de Figueiró, o Almirante Guilherme Cappelo, o António Waddington e o Visconde d’Asseca Pae que vinha com o querido Principe.
Tempo lindo para contrastar com a minha grande tristeza.
Thomaz de Mello Breyner - 4º Conde de Mafra
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Excerto do "Diário de Dona Amélia de Orleães e Bragança", onde a Rainha lamenta o desaparecimento trágico de S.M. o Rei D. Carlos e do Príncipe Real D. Luís Filipe.
Lisboa, Palácio das Necessidades
Sábado, 1 de Fevereiro de 1908 Escrever. Escrever para não gritar. Para não perder a razão - sim, para não perder a razão. Para expulsar, por um instante que seja, as terríveis imagens deste dia, e suportar o longo horror desta noite, a primeira de todas as que estão para vir.
Escrevo para mim. Escrevo para não enlouquecer, (...) mas a rainha de Portugal não se entrega à loucura. Ela cumpre o seu dever, ou morre como morreu hoje o rei de Portugal, D. Carlos I, como morreu hoje o príncipe herdeiro, D. Luís Filipe, como ela própria deveria ter morrido sob as balas dos assassinos.
Meu Deus, porque permitiste que matassem o meu filho? Protegi-o com todo o meu corpo, expus-me aos tiros, quis desesperadamente que eles me trespassassem a mim. E bastou uma única bala para destruir o rosto do meu filho. (...)
A dor cobriu tudo. Esvaziou-me o Espírito. As recordações desapareceram, estou incapaz de chorar. Inerte. (...)
Preciso de continuar a escrever até que o dia rompa, em vez de deixar que os pesadelos me invadam num sono inquieto. É preciso descrever a realidade, mais cruel do que o pior dos pesadelos.
Lisboa, Palácio das Necessidades
Sábado, 1 de Fevereiro de 1908 Escrever. Escrever para não gritar. Para não perder a razão - sim, para não perder a razão. Para expulsar, por um instante que seja, as terríveis imagens deste dia, e suportar o longo horror desta noite, a primeira de todas as que estão para vir.
Escrevo para mim. Escrevo para não enlouquecer, (...) mas a rainha de Portugal não se entrega à loucura. Ela cumpre o seu dever, ou morre como morreu hoje o rei de Portugal, D. Carlos I, como morreu hoje o príncipe herdeiro, D. Luís Filipe, como ela própria deveria ter morrido sob as balas dos assassinos.
Meu Deus, porque permitiste que matassem o meu filho? Protegi-o com todo o meu corpo, expus-me aos tiros, quis desesperadamente que eles me trespassassem a mim. E bastou uma única bala para destruir o rosto do meu filho. (...)
A dor cobriu tudo. Esvaziou-me o Espírito. As recordações desapareceram, estou incapaz de chorar. Inerte. (...)
Preciso de continuar a escrever até que o dia rompa, em vez de deixar que os pesadelos me invadam num sono inquieto. É preciso descrever a realidade, mais cruel do que o pior dos pesadelos.
Fonte: REGICIDIO "IN MEMORIAM"
Sem comentários:
Enviar um comentário