Ao contrário dos presidentes, os reis não
morrem. Dir-se-ia que o Rei é um só, com cambiantes de carácter e do tempo que
cada episódio da monarquia vai oferecendo. Enganavam-se os republicanos quando
afirmavam que a ideia monárquica desapareceria com a partida de D. Carlos e do
Príncipe Luís Filipe. Enganaram-se uma vez mais quando, sem descendência, morreu
D. Manuel II. Mas a ideia ficou, o sentimento de simpatia familiar do povo
permaneceu inquebrantável, não obstante os poderosos tudo terem feito para que
ao longo de décadas a nossa família real fosse exilada, censurada, minimizada e,
até, ridicularizada. Mais de um século após a infame matança, eis que o Chefe da
nossa Casa Real é um dos mais respeitados homens do país, de decência,
patriotismo e desinteresse pessoal absolutamente inquestionáveis. O mistério da
monarquia não tem mistério porque, afinal, o Rei também somos nós, portugueses
aspirando à libertação, à partilha de tudo quanto dos une, ao bem que desejamos
para esta terra. O Rei é todos num homem. Por isso não tem agenda, não tem
partido, não negocia, não trai, não promete, não vive do contingente, não tem
amigos na acepção comercial de um interesse.
A evocação do regicídio deveria ser, afinal, a
prova da imortalidade do sentimento monárquico. Há semanas, falando com SAR o
Príncipe da Beira, jovem de 17 anos, pressenti o peso dessa responsabilidade que
se herda e não se discute, o peso e a responsabilidade de vir a ser um dia
aquilo que o Senhor Dom Duarte tem sido ao longo destas décadas de chumbo;
aquilo que foi, desde 1143, a função dos nossos reis. A família real une e é
respeitada porque é um símbolo nacional e porque lembra aos portugueses que há
coisas que estão para além do nosso tempo. Os regicídios acontecem na proporção
do ódio ou da estupidez daqueles que desconhecem o intrínseco carácter
democrático e libertador da monarquia.
Felizmente, vai-se dissipando lentamente a teia
de mentiras, de preconceitos e ignorância fabricada pelos inimigos da ideia
monárquica. Um dia, quando tomarem consciência do mal que fizeram a Portugal e
se biografar a passagem de Dom Duarte pelo nosso tempo, os mais honestos
lamentarão o que perdemos todos por não se ter sabido aproveitar a dedicação de
um homem que tem sido, em todas as causas que abraça, o que de melhor tem
Portugal.
Miguel Castelo-Branco
Fonte: Combustões
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