A desproporção mediática entre arguidos poderosos, advogados de topo e seus aliados mais ou menos venais ou serventes no sistema judicial, de um lado, e magistrados, do outro, é um facto conhecido desde que o garantismo alemão pós-1945 foi aproveitado pelos políticos corruptos. A grande maioria dos média funcionam como caixa de ressonância dos microfones do poder, difusão acrítica das narrativas dos defensores e censura de informação incómoda.
Os magistrados estão constrangidos ao silêncio pelo dever de ofício e pela servidão dos órgãos de administração da justiça, quando não dos próprios dirigentes sindicais, em trânsito para lugares mais confortáveis, com relevo para o remanso do Tribunal de Contas.
E a imprensa passou de cadela de vigilância do poder a capacho do executivo, numa promiscuidade repulsiva. Jornais, rádios e televisões, deixaram de dar lucro e tornaram-se centros de custos de grupos empresariais, de goela aberta para o leite que escorre, sob a forma de subsídios e projetos, das tetas dos governos.
Portanto, há uma modificação desavergonhada da separação dos poderes e dos direitos, liberdades e garantias, constitucionais. O poder legislativo e o poder judicial estão submetidos ao poder executivo, tal como a imprensa e os órgãos de controlo dos média. Os direitos, liberdades e garantias, são desiguais entre o corrupto ligado ao poder e o cidadão comum.
Esta circunstância não é exclusiva de Portugal, mas aqui é mais confrangedora. Na prática, e agora com maioria absoluta, há uma para-ditadura do primeiro-ministro António Costa que o Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa consente.
O juiz Carlos Alexandre é um herói do povo pela independência e rigor face ao poder corrupto político e económico, mas uma vítima da perseguição desse poder.
A crucificação a que pretendem sujeitá-lo tem um propósito indisfarçável: a dissuasão da independência. A defesa do juiz não importa apenas por ele, mas pela autonomia do poder judicial e a proteção da intervenção política e social dos cidadãos. Por isso, somos todos Carlos Alexandre!
António Balbino Caldeira
Fonte: Inconveniente
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