No dia 16 de Agosto de 1900, faleceu EÇA DE QUEIROZ, em Neuilly-sur-Seine, mas o seu pensamento e escritos continuam mais que actuais, nomeadamente as suas convicções Monárquicas.
‘E sem desejar ser descorteses para com personalidades, – somos forçados a constatar que os actuais chefes republicanos, como tais, como chefes, fazem sorrir toda a parte séria da Nação.’, Eça de Queiroz in «Novos Factores da Política Portuguesa», Revista de Portugal, Volume II, Abril de 1890.
José Maria de Eça de Queiroz foi um dos mais importantes escritores portugueses da Literatura Portuguesa e mesmo Universal. Genial, como poucos, além de autor de obras-primas do Romance Realista como ‘Os Maias’, ‘O Primo Basílio’ e ‘O Crime do Padre Amaro’ foi, também, um reputado jornalista e as suas crónicas fizeram um retrato fidedigno e crítico da sociedade da segunda metade do Século XIX.
Monárquico convicto, não deixou passar em claro o surgimento do republicanismo militante, caracterizando-o de forma bastante crítica, mas verdadeira. Pela visão de Eça de Queiroz in «Novos Factores da Política Portuguesa», nas «Farpas» e em cartas pessoais, sobre o Partido Republicano português e a previsão catastrófica que o seu génio fazia de uma revolução republicana, somos levados a constatar que o incipiente partido republicano que poucos anos mais tarde fez a golpada que levou à implantação do novo regime, não era mais do que um “caldo” de homens que não representavam de todo a sociedade portuguesa, nem na qual os portugueses se sentiam representados ou mesmo se reviam:
“Constitui esta massa já considerável de descontentes um partido militante e organizado? Não, certamente. Esta massa não está ainda filiada no Partido Republicano, não pertence ainda a clubes, não obedece ainda a um programa. Quando muito lê o Século. Mas constitui essa classe, por assim dizer, não-monárquica, que no Brasil permitiu que se fizesse a Revolução no espaço de duas horas, e que é tão perigosa para a segurança das instituições pela sua total indiferença e desamor, como o seria pela sua intervenção hostil e combatente.
Tais são os elementos de que já efectivamente se compõe ou com que condicionalmente já conta o Partido Republicano. É todavia este partido um perigo imediato e iminente para as instituições? Longe de toda a ilusão optimista, afigura-se-nos que esse partido, no dia de hoje, oferece um perigo ainda mínimo, porque tem a impotência de uma multidão a que falta a direcção. Entre os republicanos organizados, filiados, arregimentados, quantos se contarão que sintam confiança real no seu directório e seus chefes oficiais? Raros, segundo nos afirmam aqueles que por experiência própria o sabem. Pode haver, e há, por esses chefes simpatia individual; pode haver, e há, crença na sua sinceridade. Mas não há já a fé na sua coragem, na sua habilidade, ou na sua competência como organizadores de um movimento. E enquanto à massa dos descontentes, dos que chamamos não-monárquicos, esses nunca consentiriam certamente em admitir como chefes, e portanto como futuros promotores da reorganização nacional, os indivíduos, aliás pessoalmente estimáveis, que hoje têm a direcção aparente, e queremos supor que real, dos interesses republicanos. E sem desejar ser descorteses para com personalidades, – somos forçados a constatar que os actuais chefes republicanos, como tais, como chefes, fazem sorrir toda a parte séria da Nação. (…)
Mas ainda mesmo sem direcção, ou com uma direcção impotente porque incompetente, o Partido Republicano existe, exibe-se, fala, escreve…”
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