‘Se D. João II é o Príncipe Perfeito, D. Leonor é a Princesa Perfeitíssima’, disse Ribeiro Sanches da Rainha D. Leonor (02/05/1458 - 17/11/1525).
Dona Leonor de Avis ou D. Leonor de Lencastre ou D. Leonor de Portugal ou ainda Leonor de Viseu, nasceu a 2 de Maio de 1458, em Beja. Filha de D. Fernando, Duque de Viseu e de D. Beatriz era irmã de D. Manuel (I) e D. Diogo.
A 22 de Janeiro de 1470, torna-se Rainha de Portugal, pelo seu casamento com D. João II, o qual era seu primo direito e segundo, pelo lado paterno, e o mesmo pelo lado materno. De facto, tanto o rei como a rainha eram netos, cada qual, de dois filhos diferentes de D. João I e de D. Filipa de Lencastre.
Como Rainha de Portugal, era detentora de terras como: Sintra, Torres Vedras, Óbidos, Alvaiázere, Alenquer, Aldeia Galega, Aldeia Gavinha, Silves, Faro, bem como Caldas da Rainha, que fundou. Tinha também direito a certos rendimentos: parte do açúcar produzido na ilha da Madeira, certos impostos pagos pelos judeus de Lisboa e pelas alfândegas do reino.
D. Leonor fundou os conventos da Madre de Deus e da Anunciada e a igreja de Nossa Senhora da Merceana, Igreja de Santo Elói, no Porto, o Convento de S. Bento, de Xabregas.
Esteve na origem da fundação do hospital termal das Caldas da Rainha, destinado a todos os que necessitassem de tratamento, sem distinção de classes sociais. Junto ao Hospital mandou construir também a Igreja de Nossa Senhora do Pópulo.
Ainda hoje as Caldas da Rainha mantêm como armas, o brasão da Rainha D. Leonor, ladeado à esquerda pelo seu próprio emblema (o camaroeiro) e, à direita, pelo emblema de D. João II (o pelicano).
Era a mais rica princesa da Europa e usou parte da fortuna na assistência social aos pobres tendo financiado a fundação das Misericórdias em todo o país, e nos territórios ultramarinos, para ajudar os mais pobres, uma iniciativa pioneira na Europa.
A Rainha D. Leonor foi grande protectora e impulsionadora das Artes & Letras em Portugal, tendo patrocinado a impressão de algumas obras, designadamente: “O livro de Marco Polo”, “O livro de Nicolau Veneto – carta de um genovês mercador”, “Os actos dos apóstolos”, “Bosco Deleitoso”, “O espelho de Cristina”. Foi protectora e mecenas de Gil Vicente, que em várias obras a apelidou de “Rainha Velha”. Algumas das obras de Gil Vicente, como O Auto da Visitação, o Auto Pastoril Castelhano, o Auto dos Reis Magos, o Auto de S. Martinho, o Velho Óbidos, Um Sermão, o Auto da Índia – o processo de Vasco Abul, o Auto dos quatro tempos, o Auto da Sibila Cassandra, o Auto da Fama, o Auto da Alma, A Barca do Inferno, A Barca do Purgatório, A Barca da Glória, foram dedicadas à Rainha D. Leonor ou encomendadas por esta.
Em 1476, ficou como regente do reino, por D. João II ter de se ausentar em defesa do seu pai em Castela.
D. Leonor de Avis, destacava-se, pela formosura, inteligência e, sobretudo, pelo que sofreu e pelo bem que espalhou, Dona Leonor, a “Rainha dos sofredores”. Tinha a fisionomia suavíssima, marcada pelos olhos azuis e cabelos louros, herança genética de sua bisavó, a Rainha Dona Filipa de Lencastre, Mãe da Ínclita Geração.
A Rainha D. Leonor faleceu no dia 17 de Novembro de 1525, no Paço Real de Enxobregas. Quis ficar sepultada no Convento da Madre de Deus, numa campa rasa, num lugar de passagem, para que todos caminhassem sobre o seu túmulo, gesto, de humildade terrestre, que comoveu o Reino.
Foi uma Rainha muito devota, tendo desejado e concretizado passar a viuvez num ambiente de piedade.
Por tudo isto Ribeiro Sanches disse da Rainha, ’Se D. João II é o Príncipe Perfeito, D. Leonor é a Princesa Perfeitíssima’ e o biógrafo da Rainha, Frei Jorge de S. Paulo chama-lhe, ‘A mais Perfeita Rainha que nasceu no Reino de Portugal’.
Miguel Villas-Boas
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