quinta-feira, 13 de agosto de 2020

“FERIDA EXPOSTA”

“O nosso rei D. Carlos poderia ter fraquezas como toda a criatura humana, mas não tinha crimes. Tinha honradez, indulgência, bom humor, benignidade, talento, coragem e prestígio nas cortes estrangeiras”. Wiquipédia livre.


Ora, vem sendo crescente a onda de políticos portugueses que, hipocritamente, andam preocupados com a monarquia da vizinha Espanha. E houve, até, quem vaticinasse os pedidos de asilo a Portugal dos Reis eméritos e, quiçá, dos actuais. Prevendo, para começo, o regresso de Juan Carlos I ao nosso país, talvez para palhaçadas como fazem com o nosso D. Duarte Pio de Bragança. Mas o que pretendiam, lá bem no fundo, é que houvesse um qualquer justiceiro radical – como o assassino do último Rei português e de seu filho – que os eliminasse e ficasse, por similitude, um herói de lá.


Sim, porque o que temos visto, afinal, é quase toda a comunicação social espanhola com a ajuda de alguma portuguesa – afectas ao republicanismo esquerdista – empenhadas no envenenamento da opinião pública, usando a conduta do pai do actual Rei Filipe VI por cujos pecados, vindos a público – tal como os do ex-Primeiro-Ministro português, José Sócrates – ainda não cumpriu penitência. Servindo-se dos erros que o antigo monarca cometeu durante o seu reinado para, de forma oportunista, tentarem derrubar a monarquia espanhola. Embora o sujeito tivesse dado ao país um descendente, com perfil, preparação e qualidades de estadista como garante da democracia e da constituição (que até o republicano, socialista e laico, Mário Soares elogiou em vida).


Isto, sem esquecermos a firme atitude do actual monarca sobre o caso da sua irmã, Infanta Cristina, ao desafectá-la de todos os privilégios reais, devido aos actos ilícitos cometidos pelo seu marido. O que se depreende, daí, que não será meigo mesmo para com quem é seu progenitor e fiel da transição para a democracia. Porém, o que me deixa perplexo é que os senhores de cá se indignem com o homem quando – nesta nossa terceira república – grande parte dos cavalheiros (?) que a vêm gerindo, através do desempenho das funções de Estado e nos Bancos, não estejam fora do sistema, ou presos. Tal tem sido a roubalheira e os inúmeros crimes de que são acusados, sem que se vislumbre justiça alguma. Uma plêiade de políticos, agora abastada, mas que chegou a Abril de 74 de mãos a abanar e, por isso, sem moral alguma para atirar pedras ao vizinho.


É óbvio que há um aproveitamento político montado pelos radicais da esquerda espanhola. Mormente, pela entrada de Pablo Iglésias – do partido “Unidos Podemos” – no Governo que traz na sua agenda o desmembramento de todo reino espanhol e que começa, já, a embirrar com a dinastia dos Borbón.


É que Iglésias não vê outra forma da dar a independência às regiões, que a pedem, sem arrumar com a instituição monárquica considerada, por ele, um estorvo. Uma vez que acalenta o desejo de vir a liderar um executivo, tendo como Chefe de Estado algum militante partidário, ao estilo do cúmplice camarada Presidente português. Arriscando o país a levar com um “insciente” que faça perder o sono aos súbditos de sua majestade.


Basta mirarem a nossa leva de Presidentes pró-socialistas a contemplarem, há décadas, a corrupção no país e a não conseguirem que a Justiça meta nos calabouços os corruptos; nem a importunarem os Governos por neles se instalarem, despudoradamente, familiares e amigalhaços.


Será, porventura, uma figura assim que o povo espanhol espera ver no Palácio de Zarzuela? Entendo, é que deverá pôr os olhos nos países baixos e escandinavos, prósperos, evoluídos e sustentáveis, onde a questão de banir os regimes parlamentares monárquicos não se vislumbra.


Compreendo, no momento, a mágoa da nação espanhola. Mas queira Deus que esta “ferida exposta” seja curada, para bem de Espanha e de Portugal.


Os espanhóis estão a ser contaminados pelo marxismo-leninismo, mas acho que não devem alimentar ilusões quanto a ficarem melhor sem o seu Rei.


NARCISO MENDES


Fonte: Diário do Minho

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