Em entrevista à Renascença, o chefe da Casa de Bragança recusa que D. Juan Carlos, saindo de Espanha, pretenda fugir à Justiça. “Provavelmente será mais tranquilo e mais prudente poder defender-se de fora.”
Ouvido pela Renascença, D. Duarte Pio, chefe da Casa de Bragança, elogia a tomada de posição de Juan Carlos, que foi “sábia” e deixa de ser um “incómodo” para o Palácio da Zarzuela.
Sobre a inocência do Rei emérito, D. Duarte Pio não tem dúvidas: D. Juan Carlos foi, ele mesmo, o enganado. E explica: “Entregou a administração da fundação a um administrador e, provavelmente, não deve ter acompanhado de perto o que é que se passava em matéria de transferências de dinheiro para a fundação”.
Qual é a sua opinião sobre o exílio de D. Juan Carlos?
É obviamente uma situação difícil e certamente muito dolorosa para o Rei emérito. Mas eu acho que [o exílio] é a decisão mais sábia para evitar que o Rei Felipe estivesse a ser mais incomodado com este assunto [suspeitas mais recentes de corrupção]. A minha opinião é que D. Juan Carlos entregou a administração da fundação a um administrador e, provavelmente, não deve ter acompanhado de perto o que é que se passava em matéria de transferências de dinheiro para a fundação. Por isso, deve ter achado que por ser uma fundação estrangeira não teria de declarar às finanças em Espanha o donativo que recebeu. Claro que, obviamente, não foi prudente. Mas estou convencido de que não terá havido uma intenção de defraudar as finanças espanholas. Não acredito que fizesse uma coisa dessas.
Acredita, portanto, na inocência de D. Juan Carlos?
Acredito na inocência e talvez na imprudência, no sentido em que ele confiou num administrador. E pronto…
Recordo também que o filho, D. Felipe, retirou as pensões a que D. Juan Carlos teria direito.
Isso foi um gesto prudente. D. Felipe não quis comprometer a instituição real com os assuntos da fundação do pai.
Partindo do pressuposto de que D. Juan Carlos é inocente, não pareceria mais claro que ele permanecesse em Espanha e, se fosse necessário, enfrentasse a Justiça? Precisamente para provar de imediato, e sem sair do país, a sua inocência. Isto não soa um pouco a abandonar Espanha apenas para não prejudicar a imagem do filho, mas sem, ao mesmo tempo, clarificar toda a situação?
O problema é que a Justiça não toma em consideração os actos que alguém fez, mesmo que seja inocente nas suas intenções, mas tendo cometido alguma ilegalidade. Provavelmente será mais tranquilo e mais prudente poder defender-se de fora. Mas eu acredito que o Rei [emérito] Juan Carlos tratará dos assuntos com a Justiça com todo o rigor necessário.
Já não é o primeiro caso na monarquia espanhola, e recente, de problemas com a Justiça ligados a fraudes. Desta vez o nome envolvido é do próprio Rei emérito.
Nos casos anteriores, a justiça cumpriu-se, não houve qualquer tipo de favor que tenha sido feito a favor do marido da filha [Cristina].
Mas estando agora a ser investigado D. Juan Carlos, até que ponto é que, sendo o antigo Rei, pode vir a afectar o seu filho D. Felipe e a coroa espanhola?
O que eu acho é que há as instituições e há as pessoas. A instituição da monarquia espanhola serviu o país muitíssimo bem, evitou todo o tipo de conflitos que teria havido e, portanto, cumpriu a sua função. Quanto às pessoas, cometem erros e imprudências. Há ali algumas coisas que aconteceram que não são muito exemplares.
Juan Carlos poderá estar em Portugal, onde de resto viveu na sua infância e juventude. Tem algum dado que aponte nesse sentido?
Não, isso não sei. Mas acho que seria muito bom para Portugal. Quanto mais se falar agora que Portugal é um país seguro e que se pode vir fazer turismo para aqui, melhor. Assim toda a imprensa mundial, pelo menos durante uma semana, ia só falar disso. Aí os ingleses iam ficar envergonhados em estar a pôr Portugal numa lista negra.
Fonte: RR
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