quinta-feira, 6 de agosto de 2020

A CADA VEZ PIOR QUALIDADE DOS POLÍTICOS

 “Sendo a velocidade da luz superior à velocidade do som
É natural que algumas pessoas pareçam brilhantes até
Abrirem a boca”.

Autor desconhecido.

Se eu porventura (o que Deus não permita) fosse Primeiro-Ministro (PM) de um governo com o qual o país tivesse relações diplomáticas e, em cima disso, fosse meu aliado numa aliança militar e co - membro de uma “associação política” (se assim se lhe pode chamar) com o nome de União Europeia (UE), e um outro PM de um desses países, em directo nas televisões, afirmasse que uma certa declaração por mim feita, era “repugnante”, o mínimo que faria era ligar-lhe de imediato e dizer-lhe que ou ele pedia desculpas públicas pelo que acabara de dizer, ou da próxima vez que o visse lhe amassava o frontispício até o respectivo cônjuge o deixar de reconhecer.

Note-se que não se trata de uma ofensa de lesa - Pátria que poderia justificar uma ruptura diplomática. Não, é apenas chicana política, que entra no foro ofensivo entre duas figuras públicas.

Aparentemente, porém, ninguém se molestou de tal sorte que, passadas poucas semanas, o putativo ofensor foi visitar o não menos putativo ofendido, a fim de lhe pedir – certamente – para tornar menos “repugnante” a sua posição no próximo Conselho Europeu. Tratava-se, como (quase) sempre, de dinheiro.

Ora isto passou-se entre o PM português, um certo descendente de indianos (como ele diz), chamado Costa (lê-se Kosta) e um súbdito da Casa de Orange - por acaso muito amiga dos portugueses - que por lá exerce funções idênticas.

E quando se encontraram aquele que me representa como chefe de governo, curva-se quase até ao chão para cumprimentar o anfitrião, sem estar minimamente enxofrado por outros políticos holandeses entenderem que gastamos o dinheiro em “vinho e mulheres” (eles não, parece que é em “drogas e homens”), tendo o auspicioso herdeiro de quem inventou a teoria do “Mare Liberum” pensado, certamente, que já não repugnava ao agora visitante e que ele até vinha vestido para a “audiência” como se fosse jogar canastra (parecido aliás, a uma cena em Luanda em que o nosso personagem passou revista à guarda de honra de jeans e sem gravata…).

A coisa passava numa de informalidade e sorrisos…      

Afinal o único que destoava desta cena pouco digna de um quadro de Rubens, era o militar que, fardado a rigor e em apresentar armas, enquadrava o cenário, como se fosse uma jarra de flores. E era.

Estas cenas caricatas (que se lhes há - de chamar?) constituem uma excepção na vida política e diplomática dos povos e nações, sobretudo no chamado mundo ocidental? Não, passaram até a ser a regra.

Tudo isto tem a ver com a falta de educação, instrução, carácter e escrúpulo da maioria dos políticos que tomaram conta da “Res pública”.

Os exemplos não faltam.

Ainda na última cimeira da UE, apareceu o PM húngaro agastado, a dizer para o éter que era o “holandês que estava a impedir o acordo, não era ele”. O holandês era a supracitada figura.

E que dizer das querelas públicas no governo brasileiro, para já não falar no inaudito Lula e na ex- assaltante de bancos, Dilma? As diatribes do inqualificável Maduro, na Venezuela? As trocas de galhardetes constantes de e para, a Administração Americana? A fotografia do despenteado PM britânico com os pés em cima da mesa, a cumprimentos ao PR francês no gabinete deste? As inqualificáveis tiradas de monsieur Macron a propósito dos incêndios na Amazónia?

Como qualificar as trocas azedas de epítetos nas discussões do Parlamento, para depois irem (quase) todos almoçar juntos nos restaurantes que rodeiam S. Bento? O que dizer da figura do Presidente Marcelo, que não hesita em pôr-se, em fato de banho, publicamente, sempre que tal lhe passa na republicaníssima mente? Logo ele que até não se pode dizer que não tenha tido uma esmerada educação e instrução. Devo continuar?

Infelizmente, a “doença” não deu apenas nos republicanos, as casas reais não têm primado pelo bom exemplo.

A talhe de foice, porque terá o actual representante da República – que não é capaz de estar quieto e calado – ido almoçar de fugida à Zarzuela a pedido de Filipe, o VI? Será que S. Majestade, o Bourbon Real em efectividade de serviço, gostaria de enviar para cá, de volta, o progenitor e outros da sua roda, pois a sua presença em Madrid está a incomodar a frágil coroa espanhola? Afinal o marido da sofrida Sofia tem cá muitos amigos (alguns até seus comparsas no Clube de Bildelberg) e consta que passou tempos felizes nos Estoris.

Não sei, é apenas um palpite…

Voltando à qualidade (ou falta dela) dos políticos, porque se passarão as coisas desta maneira?

Eu que não me cultivei nessa ciência algo esotérica que dá pelo nome de “Sociologia”, onde hoje pontifica o Boaventura de Coimbra (não confundir com “boa” ventura”), parece-me – mas claro que apenas me parece – que as razões se prendem com a “democratização” da sociedade e da vida política. Neste caso o termo Democratização é sinónimo de “abandalhamento”; de nivelar por baixo; de Demagogia e de falso igualitarismo, que levam à falta de vergonha, à falta de Ética e à falta de Moral. Vale tudo, o que é exponenciado pelos diferentes “ismos” e pela importância superlativa que os “media” adquiriram, acompanhado da falta de “regras” que os orientem.

Os políticos, aliás, norteiam toda a sua actividade e prioridades, pela agenda mediática, nomeadamente o telejornal das 20:00. Os principais políticos caminham sempre com uma corte de jornalistas atrás e não perdem uma oportunidade para se fazerem à fotografia e à imagem.

Os senhores jornalistas habituaram-se a tal e tiram partido disso. O actual governo espera certamente, não ter desperdiçado os 15 milhões de euros que distribuiu graciosa, mas muito pouco equitativamente, pela comunidade mediática. Terá sido um óptimo investimento…

Naturalmente com o argumento de que a comunicação social é imprescindível à Democracia. Azar o meu e de muitos outros, que não sendo, tão pouco a nossa profissão, imprescindíveis à dita cuja, ficámos a chupar no dedo…

Os Partidos Políticos são outra das principais causas. Um Partido Político, não me canso de repetir, é uma coisa mal enxabida e daninha da sociedade. Mas inculcaram na cabeça dos votantes (vivemos da quantidade, não da qualidade) que aqueles são fundamentais à Democracia. Como se tem visto.

Ora um Partido Político é apenas um “clube” de adeptos de uma ideia, ideologia ou doutrina, às vezes apenas um grupo de admiradores de um individuo; uma amálgama que não tem crivo, preparação, nem selecção, tão pouco supervisão. As únicas regras existentes são as de cumprirem os estatutos do clube, perdão, do Partido, pagarem as quotas (e se não pagarem, “alguém” paga por eles para poderem votar) e nada mais. Ora é daqui que saem os cidadãos que vão na sua maioria, ocupar os lugares de mando da “Res pública”, a começar nas Autarquias. Os Partidos possuem “juventudes”, que supostamente, sendo jovens teriam tempo para irem aprendendo. Mas o que eles aprendem não tem nada a ver com governação, mas sim “como se manterem no Poder”; o que não é propriamente a mesma coisa.

Aliás, a actividade mais importante, ou seja o governo da Polis, é a única para a qual não existe curso ou licenciatura, não se prestam provas, nem existe “mínimos” para ir a jogo. É assim, mal comparado, como se um tipo qualquer viesse para a tropa com a roupa que trouxesse no corpo, ia a votos e era eleito para um cargo qualquer independentemente do posto a que correspondesse…

O escrutínio público não assegura coisa alguma.

As “massas” não estão preparadas (nem podem estar) para terem uma fotografia correcta do que se passa e há muitas maneiras de as induzir em erro. Às vezes acerta-se, mas é sol de pouca dura.

E o “edifício” pela força das coisas, nunca tende a melhorar nem se regenera: decompõe-se.

As pessoas de “Bem” há muito que deixaram de ter o mínimo de respeito pelos Políticos; até porque eles são os primeiros a não se darem ao respeito.

Lamento desapontá-los, mas tudo isto só melhora com grandes mudanças de paradigma o que exige uma acção “revolucionária” de carácter contra – revolucionário. E ter saudades activas do futuro…

Sim, eu sei, que não é fácil entender. E, por isso, depois realizar.

Até lá, vou-me entretendo a ver desfilar os filhos d’algo deste mundo e a tentar passar nos intervalos da chuva.

E sempre que posso inebrio-me com um branco geladinho, comprado obviamente no Pingo Doce (passe a propaganda).

Parece que eles pagam os impostos na Holanda.

 

João José Brandão Ferreira

Oficial Piloto Aviador (Ref.)


Fonte: O Adamastor

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