quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Mudaremos em paz


Sinto que qualquer coisa nos empurra para uma mudança. Não pedimos sangue nem violência, não queremos ajustes de contas nem pretendemos que os homens de bem sejam molestados ou impedidos de servir a pátria, o Estado e a sociedade com o que de melhor possuem. Ainda ontem pela noite, recém-chegado a casa após longa conversa com um oficial do exército que me desabafara o extremo cansaço por tanta vulgaridade, incompetência e abandono, recebi um telefonema de um velho amigo que não vejo há mais de dez anos. Vive em Braga e ali é professor na universidade. Um bom jurista, absolutamente independente, já não vota e situou-se durante décadas no centro-esquerda, isto é, na grande área do rotativismo. Agora, exausto, aceitou finalmente a possibilidade da monarquia.
Sosseguem os republicanos e todos os amantes da liberdade, pois nós não somos como os homens do 5 de Outubro: nós não recorreremos a pistoleiros e bombistas, não assassinaremos Chefes-de-Estado, não armaremos paisanos, não faremos tábua-rasa de resultados eleitorais, não faremos medições frenológicas nem desterraremos opositores, não teremos prisões privativas nem juízes nomeados pelo governo, não faremos assaltos à imprensa livre, não viciaremos resultados eleitorais, não proibiremos partidos políticos, não empurraremos ninguém para o exílio, não lançaremos a polícia sobre os sindicatos, não teremos Olímpios nem Camionetas Fantasma.
Se a Restauração vier, virá para aprofundar a liberdade e a união de todos os portugueses. Foram cem anos perdidos, de bagunça seguida de ditadura e ditadura seguida de bagunça. As pessoas sabem que a coisa está por um fio e antes nós - essa maioria silenciosa que esperou e começa a despertar - que a violência do povo à solta, entregue às paixões irracionais do saque e da vingança. Mudaremos em paz, com todos, com as leis, os tribunais e a ordem, com as liberdades civis e políticas respeitadas.
Que venha, pois, o tal REFERENDO. Aqui estaremos para dar voz ao povo e a Portugal, que de tanto esperar, chegou a isto.
 
Miguel Castelo-Branco
 

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