Tem razão o
João Ferreira do Amaral quando conclui, aqui em baixo, que Portugal não precisa de um chefe de Estado que assuma o propósito de fazer difícil a vida ao governo. E tem também razão o Pedro Adão e Silva quando lamenta a fragilidade política do presidente da república. Mas estas conclusões, ao invés de deverem inspirar o desejo de mudar quase nada, deviam guindar-nos para uma discussão mais profunda, mais substancial e, por isso, mais importante: a questão do regime. Nós podemos ir buscar às experiências estrangeiras as receitas para os nossos males. Sempre fomos mais atreitos a aceitar imposições externas do que seguir uma disciplina interna, mas não seria melhor olharmos para nós mesmos, para a nossa experiência política, para as nossas instituições históricas e procurar nelas essa inspiração? Que sentido fará eleger, por sufrágio directo e universal, o chefe de Estado, que assim carrega uma legitimidade em tudo idêntica à de outros órgãos de soberania? Não faria mais sentido que o chefe de Estado estivesse revestido de uma legitimidade diferente e historicamente qualificada? Não seria preferível termos um Chefe de Estado independente e que fosse, a cada passo, mais do que ele próprio? Que fosse ao mesmo tempo, ele e todos os que o antecederam? É que muito mais importante do que o poder - necessariamente sempre limitado- é a autoridade. E a autoridade do Rei é dos mais preciosos activos políticos.
Nuno Pombo
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