quinta-feira, 8 de abril de 2021

O patriotismo hoje escondido dos portugueses africanos que portugueses queriam continuar

 


A ler as desassombradas intervenções do comendador Burity da Silva da sua tribuna de deputado, verifica-se e confirma-se que aquele grande português africano não só conhecia profundamente o seu continente, como sabia que a África portuguesa não precisava de inventar qualquer nacionalismo, pois era-o [portuguesa] sem margem para confusões.


"Servir os objectivos neocolonialistas que há muito se processam por parte da alta plutocracia em conjunção paradoxal com a política de penetração determinada pela URSS na sua diabólica finalidade de assentar suas bases operacionais no continente africano.


Bem sabemos não serem os interesses dos africanos que preocupam os autores dessa acção que se desenvolve em África sob o rótulo de promoção das gentes daquele continente aos benefícios do progresso e da civilização.Há muito e desde sempre ficou demonstrado que o problema da comunidade portuguesa disseminada pelos cinco continentes, formando uma sociedade multirracial de padrão único no Mundo, de forma alguma se pode enquadrar nos aspectos que aparentemente determinaram os neonacionalismos africanos.


Na África Portuguesa não estão apenas em causa direitos históricos, que os altos interesses económicos das grandes nações fomentadoras do estado de guerra naquele continente procuram hoje destruir, como se fosse possível sobrepor intrinsecamente aos valores humanos concepções artificiais de cobiça e de ganância que plutocratas e comunistas desencadearam encapotadamente sobre a nossa terra, arrastando para tão nefasta aventura turbas inconscientes à mistura com criminosos oportunistas que chefiam os bandos de terroristas.


Ali estão também os imperativos da nossa sobrevivência, cujo futuro temos de encarar à margem das solicitações que dão pelo aliciante rótulo dos chamados ventos históricos. Sem deixarmos de debruçar-nos sobre o nosso tempo, não será difícil verificarmos a alternativa que nos oferecem os acontecimentos em que fomos envolvidos:


- Ou uma fictícia independência, face à qual, e perante os múltiplos aspectos que caracterizam os neonacionalismos africanos, teríamos fatalmente o choque das populações locais na sua diversidade étnica, cultural e social a digladiarem-se pela supremacia do poder;


- Ou, admitindo ilogicamente a predominância apenas dos autóctones na condução dos novos rumos para que pretendem encaminhar a nossa África, relegando-se para planos secundários todo o resto das populações que ali vivem; que ali nasceram e os que ali se fixaram há séculos, o que seria absurdo, e então surgiriam naturalmente as rivalidades tribais, como a experiência dolorosamente já evidenciou em outros territórios de África.


Outra coisa não desejam os mentores de tais reacções, dado que a sua finalidade é justamente dividir para reinar. E quanto maior for o caos, a desordem e o desentendimento, melhor são servidos os seus inconfessáveis fins.

(...)


Não quero terminar sem aqui, nesta evocação do trágico período de um ano que passou, deixar uma palavra de justiça, uma palavra de homenagem, aos bravos portugueses de Angola, sem distinção de cores nem de raças ou posições, que nos deram o mais brilhante exemplo de fidelidade à Pátria que a história regista. A despeito de todas as amarguras e provações que o terrorismo estrangeiro lhes tem causado, ninguém fugiu da terra portuguesa de Angola, ninguém desertou ou deixou de cumprir o seu dever. Anónimos na sua modéstia, grandes no sem heroísmo, com os pés fincados à terra, bem merecem que sobre o seu comportamento meditem uni pouco os insatisfeitos que de um gabinete confortável tudo criticam e malsinam. O único caminho que a todos os portugueses dignos deste nome cumpre seguir é o da incondicional unidade em volta da bandeira da Pátria!"


Burity da Silva, intervenção na Assembleia Nacional em 20 de Março de 1962



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