sexta-feira, 21 de maio de 2021

SAR, Dom Duarte de Bragança entrevistado pelo "Correio dos Açores"

 


No último dia da sua visita ao arquipélago dos Açores, D. Duarte Pio de Bragança – acompanhado por Dona Isabel de Bragança e D. Afonso de Bragança – marcaram presença no Jardim José do Canto, onde participaram nas várias acções que decorreram durante o dia de ontem, iniciado com um momento de oração junto com alguns romeiros na Ermida de Sant’Ana.
Em seguida, na saída lateral desta ermida, foi apresentado um painel de azulejos alusivo à passagem do Bicentenário do nascimento de José do Canto, encomendado pela Fundação José do Canto a Dona Luísa Eugénia Cabral da Câmara Pinto Leite, Viscondessa dos Olivaes, autora dos painéis de azulejos existentes num dos percursos do jardim, que mereceu os ruidosos aplausos de quem lá estava presente, incluindo descendentes do próprio José do Canto.
Ainda para assinalar a passagem do Duque de Bragança e da respectiva família por Ponta Delgada, foram colocadas duas coroas de flores junto a dois monumentos que existem no referido jardim, nomeadamente junto à estátua de José do Canto e junto ao busto de D. Carlos I.
Já no Paço do Jardim José do Canto, Dom Duarte Pio de Bragança, Herdeiro da Coroa de Portugal, plantou um Freixo-da-Nova-Zelândia, árvore rara em Portugal, seguindo-se um momento em que os presentes puderam desejar um feliz aniversário ao Duque que, no passado dia 15 de Maio, dia da sua chegada à ilha Terceira, celebrou o seu 76.º aniversário.
De acordo com D. Duarte de Bragança nesta entrevista, a última vez que esteve de visita aos Açores foi há três anos, e em relação à visita realizada em plena pandemia, destaca o facto de esta ter sido “muito interessante”, graças aos convívios proporcionados e às iniciativas programadas, tais como a realização de conferências, “embora, infelizmente, tenha sido uma visita curta demais”.

(Correio dos Açores) Tendo em conta que passamos por uma pandemia, o que achou de diferente nas nossas ilhas e na sua visita em geral?
(Duque de Bragança) Notei um grande sentido de responsabilidade por parte da população. De facto, conseguiram evitar a disseminação da pandemia na maior parte das ilhas e houve um comportamento cívico fantástico, o que faz com que os Açores sejam um exemplo a nível mundial de um território que conseguiu escapar ao pior da pandemia.

Tem acompanhado com preocupação as notícias relacionadas com a pandemia?
Há dois aspectos a ter em conta. O primeiro é o das pessoas que ficaram doentes, com consequências e as que morreram, mas, se fizermos as contas, percebamos que a percentagem de pessoas que morreram é baixíssima, menos de 2%.
Em comparação com outras doenças é uma percentagem baixíssima, mas o problema principal foi a dificuldade do nosso sistema de Saúde ao se confrontar com essa situação, então o país teve que ser paralisado economicamente, com consequências gravíssimas, para preservar uma parte pequenina da população que não tinha condições de ser protegida, e faria muito mais sentido as pessoas em grupos de risco, por idade ou por saúde, ficarem isoladas e o resto do país continuar a funcionar. Faria muito mais sentido do que fechar a economia.

O que o preocupa a seguir?
O empobrecimento de uma grande parte da população devido a situações trágicas, e há o perigo de haver falta de responsabilidade, como se viu nas celebrações da vitória do Sporting (…), mas daqui a oito dias é que vamos ver quais as consequências desta concentração, espero que não se tenha começado outra vez a espalhar a pandemia.
Temos que perceber que não podemos gastar dinheiro com coisas muito engraçadas mas que não têm grande utilidade, como novas auto-estradas, mais gastos com a chamada “cultura”, que muitas vezes não é cultura, gastos com coisas que são muito caras mas que não são úteis para o país e que não contribuem para o crescimento da riqueza ou para que a economia seja mais produtiva e mais eficiente.
Não pode haver nesta altura desperdício de recursos, há que dar uma grande prioridade a tudo o que seja criação de riqueza e no evitar os efeitos da miséria. Há que trabalhar com lógica e não com sentimentalismo. É  humano, compreende-se, mas não é inteligente. Inteligente é utilizar o raciocínio lógico e procurar tomar as medidas que efectivamente ajudem ao crescimento económico, senão, como têm dito vários economistas, daqui a uns anos estarão gastos os milhões provenientes da ajuda europeia, e ficamos na mesma: pouco produtivos e na mesma situação de pobreza.
(…) Importar produtos não resolve situação nenhuma para o país, habituamo-nos a importar o que precisamos e, se o dinheiro de Portugal, seja do turismo, seja da economia produtiva, é desperdiçado com produtos estrangeiros, daqui a uns anos estaremos na mesma. Somos um dos países menos desenvolvidos da União Europeia, há países da antiga Europa comunista que nos passaram à frente.

Na sua opinião, o que originou esta situação?
Diria que, em parte, é uma consequência da mentalidade da República. Ou seja, a República, apesar de ter presidentes excelentes como o actual e como o General Ramalho Eanes, é efémera por natureza.
Passa-se o mandato, o Presidente vai embora, e alguns estão mais preocupados com a sua reeleição do que com o futuro, outros não, mas é muito efémero. No fundo, o sistema republicano é uma democracia a prazo onde os responsáveis estão preocupados com as próximas eleições, enquanto os reis estão preocupados com os seus netos e com o futuro. Por isso é que as monarquias europeias, e fora da Europa, são, em geral, mais prósperas e mais responsáveis do que a maior parte das repúblicas, com a excepção das repúblicas muito tradicionais, como por exemplo a Suíça, que tem uma república medieval, e aí o sistema republicano funciona muito bem.
Em Portugal, os bons presidentes da República, são aqueles que tentam actuar como se fossem o rei, serem isentos partidários, estarem preocupados com o futuro, serem conciliadores, e isso é uma característica real que marca os bons presidentes da República.

No que diz respeito à pandemia, se fosse rei, o que faria de diferente do Governo actual?
Tentaria dar sempre um bom exemplo de comportamento pessoal, de encorajamento das boas iniciativas e de tudo aquilo que está a ser bem feito, dos médicos e dos enfermeiros, como todo o pessoal que trabalha no sector médico que sofreu muito. (…) Os reis europeus fizeram isso, visitaram os hospitais, mas isto não é de agora, porque D. Pedro V morreu porque foi visitar os hospitais na altura de uma pandemia e apanhou a doença.

Quais as maiores adversidades que enfrentam os Açores neste momento, no seu entender?
(…) Diria que aqui nos Açores, o grande risco é a economia estar muito dependente do sector leiteiro e, de certa forma, do turismo. Praticamente não há produção e a própria agricultura está muito focalizada só numa produção. Isso é perigoso.
Se há excesso de leite em determinadas zonas, este poderia ser industrializado e aumentar a produção de queijos, por exemplo. Outros derivados do leite, que são óptimos para a saúde, como o kefir e uma série de outros derivados, têm um enorme interesse alimentar e economicamente são rentáveis.
(…) Uma outra coisa que venho defendendo, mas que algumas pessoas interpretaram mal, é que um estatuto bom para os Açores e para a autonomia açoriana seria um estatuto semelhante ao Reino Unido, o reino inglês, o caso mais conhecido, mas também há o reino unido das Antilhas, na Holanda. Isto dá o máximo de autonomia com o máximo de coordenação nacional. Os antilhanos são complemente contrários a qualquer tipo de separação em relação à Holanda, e se nós nos tivéssemos encaminhado por aí antes da revolução, teríamos muito provavelmente hoje um estatuto de reino unido com Timor, Cabo Verde, Guiné e, possivelmente, com províncias ultramarinas maiores.

O que pensa do facto de o PPM ter sido um dos partidos a ter integrado a coligação que constitui o actual Governo Regional?
O PPM dos Açores nasceu da Real Associação, tem uma mentalidade muito mais baseada nos princípios tradicionais da democracia municipalista portuguesa e da ecologia divulgada por Gonçalo Ribeiro de Telles, não tem uma mentalidade partidária.
No almoço de convívio que tivemos no Faial, antes da conferência de Assunção Cristas, estavam representados os deputados de todos os partidos, e o convívio foi organizado tendo em conta a ideia monárquica portuguesa que é a harmonia inter-partidária, para que todos em conjunto lutemos por Portugal.
Por isso acho que a presença do PPM no Governo é muito positiva e muito útil, no sentido em que contribui para esse tipo de mentalidade, e, mesmo republicano, o país deveria seguir por esse caminho e não pelo caminho da luta partidária. Uma certa disputa é saudável, mas não o é ao transformar a vida partidária num desafio de futebol.

O que necessita de ser urgentemente melhorado no país?
Algo que tem que melhorar urgentemente no país todo é a educação. A nossa educação é muito influenciada ideologicamente, é muito condicionada por certos pensamentos ideológicos e pela propaganda política.
As aulas que antes se chamavam de Educação Sexual e que agora se chamam Educação Cívica, são uma violência contra as famílias e, aliás, as crianças não podem levar os livros para casa que os pais ficariam chocados com a agressão moral que a Educação Sexual faz à moral das famílias. É violentamente hostil com um objectivo ideológico que se chama ‘marxismo cultural’.
(…) Está-se a tentar destruir a família e a sua moral espiritual, e destruir os valores que, no fundo, criaram Portugal e mantêm uma coesão na sociedade portuguesa, e temos que prestar atenção a isso. Não faz sentido que uma pequena minoria iluminada se considere dona da verdade e, à socapa da democracia e da opinião do povo, imponha uma mudança radical nos comportamentos sociais da população. Não é democrático, não é justo nem moralmente aceitável.

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