Na imagem, tapeçaria representativa da conquista da cidade marroquina de Azamor por Dom Jaime, Duque de Bragança.
Como a seu tempo notou Luís Filipe Thomaz, dir-se-ia que a expansão portuguesa no Oriente obedecera a um plano pré-existente de dominação política e económica do Oceano Índico. Contudo, pondo de parte as manifestas dificuldades de que a análise marxista dá sinais ao abeirar-se do século XVI português, interessa localizar, para lá do conhecimento das facções da corte e lutas pelo poder, qual a ideia de expansão que tinham as sucessivas gerações de governantes que animaram o esforço português no Oriente. D. Manuel I parece ter sido fortemente influenciado pelo messianismo dos seus preceptores e, depois, por Duarte Galvão, seu conselheiro muito impregnado de ideais joaquimitas. Os planos de D. Manuel I para a conquista do Médio Oriente não são frequentemente referidos na documentação coeva. A conquista do reino mameluco não era muito publicitada, por forma a não alvoroçar os restantes reinos cristãos que aspiravam à posse de Jerusalém, assim como as repúblicas mercantis italianas envolvidas do tráfico do Levante. Albuquerque pertencia ao círculo da corte que se identificava com a crença messiânica de iminente queda do “sultanato de Babilónia”, ou seja, do Cairo mameluco. Esta crença da proximidade de um acontecimento transcendente estava, aliás, muito difundida no círculo do Paço. Por volta de 1516, Diogo Velho exprimia tal convencimento, referindo-se expressamente à tomada de Jerusalém, à conversão dos judeus e do Xá Ismail:
“O grão Rei Dom Manuel
a Jebussen (judeus) e Ismael (Xá da Pérsia, aliado de Portugal)
tomará e fará fiel à lei universal.
Já os reis [do] Oriente
a este rei tão excelente
pagam páreas e presente
a seu estado triunfal” (1)
O que teria sido do destino do Médio Oriente se, por volta de 1520, Portugal tivesse expugnado Jerusalém? Não sabemos; ninguém sabe.
MCB
(1) Cancioneiro geral de Garcia de Resende, v. III. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1991.
Fonte: Nova Portugalidade
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