Qual é o valor pelo qual mais vale a pena lutar?
A dignidade de todos os seres humanos, porque dessa dignidade derivam todos os outros valores que valem a pena defender.
Em primeiro lugar, da sua dignidade deriva um profundo respeito pela pessoa até ao ponto da reverência, dignidade que possui por si própria, e não por ter ou não limitações físicas ou psíquicas, por já ter nascido ou ser idoso, por qualquer característica física que tenha ou deixe de ter, por ser autónomo ou não, pela sua história ou origens ou qualquer outra coisa: as pessoas todas têm uma dignidade intrínseca, que tem de ser respeitada.
Daí deriva logo o direito à vida, que não pode ser tirada a ninguém: para uma pessoa, a única morte digna é a morte natural. Relacionado com o direito à vida vem o respeito pela integridade de cada um, que não pode ser mutilado nem objecto de experimentação ou manipulação tecnológica, mesmo que esteja num estado de desenvolvimento inicial; o direito a não ser um mero fruto da tecnologia. Uma das aberrações da nossa época consiste precisamente na redução das pessoas a objectos: objectos de consumo, de experimentação, descartáveis.
Da dignidade de cada pessoa deriva também a sua liberdade, a possibilidade de se desenvolver autonomamente, de crescer como pessoa e procurar a própria felicidade, sem imposições externas arbitrárias; a liberdade de educação e de se formar e desenvolver, a liberdade de acção política, de ter as suas ideias e de as defender; a liberdade de traçar o caminho da sua vida, de fazer as suas escolhas, ter os seus próprios bens e montar o seu negócio; a liberdade de formar uma família, de ter uma religião e de a exercer em público e em privado.
Esta liberdade implica que haja uma série de condições na sociedade que a facilitem, que não haja uma regulação da vida das pessoas, nem modelos únicos pelos quais todos têm de se reger. A liberdade tem de ser defendida e mesmo reconquistada em cada época, pois haverá sempre quem queira impor-se aos outros, de formas descaradas ou subtis. O Estado é hoje em dia o maior limitador das liberdades individuais, quando devia ser o seu garante; é preciso uma mudança substancial para que passe a garantir a liberdade e deixe de ser um agente do pensamento único.
A dignidade da pessoa exige o direito a ter uma história, uma cultura, uns antepassados, que o definem e lhe dão uma identidade; poder viver os costumes e valores que integram a identidade nacional e participar activamente no percurso histórico do País, na sua vida social, política e cultural, a contribuir para o que é a nossa Pátria.
O trabalho tem de promover o desenvolvimento e a realização pessoal de cada trabalhador, para ser um trabalho digno de uma pessoa. Isso exclui todas as formas de opressão e abuso do trabalhador, incluindo os excessos de horas e salários injustos, que são formas de escravidão. Deve ser compatível com a formação de uma família, e permitir os tempos apropriados de descanso. A dignidade da pessoa exclui absolutamente o ser tratada como uma mercadoria, um mero recurso.
Ricardo Mendes Ribeiro, Professor de Física na Universidade do Minho
Fonte: Notícias Viriato
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